Pages

Wednesday, September 7, 2016

Caetano na noite de Lisboa

Ontem foi um dia emocionante. Não pensei que fosse ser tanto. Sabia que estava na expectativa, sabia que queria ir, por curiosidade, por amor às memórias que tenho, que são tantas, cuja banda sonora era Fina Estampa ou Foreign Sounds, misturados com Chico e Bethânia, mais tarde Morelenbaum. Lembras-te, Mãe? Tal como nos sonhos há sempre um detalhe que, pode parecer pouco importante, mas que persiste quando nos tentamos lembrar deles, quando me vêm à memória as lembranças da minha infância, adolescência, do meu crescimento, há sempre música no fundo - os almoços de domingo, à tarde depois da escola, nas viagens de carro pela cidade. Quase sempre bossa nova, samba, Brasil. Nos dias mais cinzentos, Brel ou Nina. No Natal, Frank Sinatra e o meu querido Bing Crosby com White Christmas. Música. A música é algo que veio de ti, Mãe. Não passo os meus dias sem ter a rádio ligada, ou o meu CD favorito do Chico a rodar.
Mas ontem, ontem foi muito maior do que estava à espera. Ontem correu a lágrima. Uma lágrima tranquila, de contentamento, de contemplação e admiração.
Ontem ouvi e vi Caetano Veloso.
(O que dava para hoje ter ido outra vez, contigo)
A entrada dele tão direta, tão segura de si.
Quando ele se vira para nós e diz, sorrindo levemente "não disse?", referindo-se a Teresa Cristina que cantou antes. Quando alguém, como resposta, lhe diz um Obrigado! E ele, cruzando a perna, posicionando os braços relaxados, confortáveis, na guitarra, diz, sedutor: "Cê merece" e trau! o primeiro acorde na guitarra "O índio..." E canta. E a sala encheu. Tremi com aquele acorde, com aquele índio, fiquei sem chão. 

A música.

Ontem entendi como o mundo é algo mais, porque existe, de facto, o belo.

Foi um sonho. Um belo sonho. Agora só me falta o Chico.


No comments:

Post a Comment