Chegou mais um ano, novo, fresco.
Não começa do zero, nunca começa. Trazemos connosco toda a nossa bagagem, do
ano anterior, dos anos anteriores, da nossa vida toda. Mas é uma sensação de
nova linha de partida. Não quero dizer que é uma “nova oportunidade” porque isso,
de certa forma, traz-me uma sensação de que algo falhou no ano que passou e não
é nada disso. Nunca o é.
É mesmo isso, uma nova linha de
partida, algo fresco, uma sensação de possibilidades.
Por primeira vez, sinto-me mais relaxada com a ideia de
passagem de ano. O normal em mim é ficar muito ansiosa em construir uma lista
de objectivos, “resoluções de ano novo”, metas a atingir. Desta vez não tive
tempo para colocar as coisas dessa forma.
Nestes últimos dois dias fiquei um
pouco deprimida a pensar que ia chegar sem objectivos, quase com a sensação de
que ia atravessar este 2015 meio perdida, até que ontem me apercebi que isso,
afinal, não é um problema. Aceitei o facto de que, apesar de ser bom ter
ambições (que as tenho, não estou livre de vontades), este ano quero deixar as
coisas acontecer. Aceitei que, para o meu normal, fazer uma lista de objectivos
não é o caminho, ou porque não os cumpro, ou porque não os atinjo na totalidade,
não sabendo, posteriormente, lidar com isso.
2014 foi um ano de mudança (sempre
o é). Nasceu a minha filha. Filha. É uma palavra bonita que gosto de repetir
mentalmente ou quando murmuro no ouvido dela o quanto gosto dela. Eu ainda com
22 anos. Com 22 anos tive a minha primeira filha e descobri nela o que há de
mais bonito na vida. Consegui, por primeira vez, sair de mim e ver o mundo, e a
vida, com outros olhos, com outro espírito.
2014 foi o ano em que fiz a minha primeira mudança para a
nossa nova casa, o Brasil. Brasil é o nosso novo lar, a nossa nova família, o
nosso novo porto seguro, de luta, de trabalho, de bem viver, de alegria. Há
muito que não me sentia tão bem num sítio. Por primeira vez não estava num
lugar com a cabeça noutro, a ansiar outro, a sonhar outro. Estava lá e estava
bem. Foi lá que nasceu a minha filha. Foi lá que abrimos uma nova escola. Foi
lá que encontrei a minha outra família.
2014 foi o ano em que consegui começar a dar-me mais valor (numas coisas, noutras, conto com 2015
para continuar o trabalho [uma resolução de ano novo?]), a ver-me mais como Mulher. Isso aconteceu no momento do
parto, algo tão físico, tão animal, tão feroz e tão doce ao mesmo tempo. Aí
definiu-se uma linha do que era e do que sou.
2014 foi o ano em que comecei a dar aulas: que feliz, feliz
descoberta! Como gosto disso, como me sinto bem. Sinto-me mais atriz, cada aula
é um exercício para mim enquanto tal, onde digiro tudo o que tenho aprendido ao
longo dos anos e finalmente dou de mim, a minha perspectiva, a minha
sensibilidade em relação ao teatro, ao fazer teatro. Cada aula é para mim uma
aprendizagem e uma abertura nova.
E tantas coisas boas, e menos boas, e muito más.
E tanta coisa que vai acontecer, tanta transformação, coisas
boas, menos boas e más, e muito boas, outra vez. Como um ciclo.
Só espero ter a capacidade de transformação que me permita
estar à altura de tudo o que vem a caminho.
E continuar a ter uma filha tão feliz e bonita como ela é.
Feliz 2015!
Ferragudo, 1.1.2015