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Tuesday, December 22, 2015

De manhã

Ouço música de Natal de fundo, um remix pouco harmonioso que fica numa moinha de fundo.
Ouço conversas soltas, o som de pratos a serem arrumados, a luz que vai abaixo, o cheiro do meu café com leite. O tempo passa, mas estes meus pequenos-almoços no café da esquina trazem-me uma sensação de estar a pairar sobre o Tempo, como se conseguisse pará-lo nesta meia-hora que tomei posse diariamente.
Quando decido que é hora de ir, parece que os minutos que ficaram em stand-by correm a uma velocidade imensa, de forma a encaixar o mundo e o seu andamento nos eixos. Tenho a sensação de corrida, e eu corro também.

Toca o sino. Onze badaladas. É hora de ir.

Saturday, December 5, 2015

... descendo a Avenida

…descendo a Avenida numa manhã soalheira de Dezembro.

As duas meninas correm; uma atrás do «piu piu», a maior corre atrás da mais pequena. Mãe e filha, duas meninas que correm.
Eu olho-as e sinto em mim uma alegria maior, uma doçura infinita ao viver aquele momento…
Tudo parece perfeito. Eterno. Um momento cristalizado no tempo.
Caminhámos as três pela cidade numa sintonia total.
Olhares de descoberta, risos e monossílabos, dedos espetados no ar e…mais risos.
Três gerações olhando e descobrindo a cidade numa manhã perfeita de Inverno. 

Até breve

Saturday, November 21, 2015

Tanto tempo depois...


Leio e releio o teu post...tanto tempo depois.

Mil respostas interiores e que ficaram todo este tempo no silêncio de mim.
 
Ser tua mãe e ver-te inteira nos teus projectos; nas tuas aulas de teatro, nas tuas peças, no mestrado em que foste aceite com nota brilhante, na tua maternidade feliz, na tua vida tão cheia...
Ser tua mãe e ver-te atenta ao Mundo e a tudo o que te rodeia e te preocupa, porque não compreendes ou não aceitas a maldade e a desumanidade.
Ser tua mãe e olhar-te com orgulho, por te saber assim como és, inteira e digna.

Releio-te muitas e muitas vezes.
 
O tempo é uma vertigem e eu paro cada vez mais para...pensar.
As escritas ficaram paradas, tenho-me limitado a ouvir, sentir, olhar e...ver.

Tantas coisas aconteceram: viagens: outros sítios, outras culturas, outro respirar...
Parar para absorver.

Olhar o Mundo e vê-lo cada vez mais pequeno, mais próximo e também mais afastado. Este Mundo em permanente convulsão e cheio de contradições mortais.
A nossa cidade maravilhosa ferida de morte e os outros lugares, que não nos sendo afectivamente tão próximos, são igualmente maltratados e arrasados. A fúria do homem em todo o seu horroroso esplendor.
Estranho mundo este em que estamos a viver.

Vou deixar-te aqui uma sugestão de um livro, que foi ontem lançado, cujo título me convoca e me pede com urgência para lê-lo. Trata-se do livro: "MENOS QUE HUMANOS" de Nuno Rogeiro.
O título diz muito. A foto de capa também.
É urgente sabermos mais e mais desta migração de gentes, deste tráfico de pessoas, deste negócio obscuro e desumano à vista de todos.
É um crime humanitário a que assistimos da janela do nosso conforto.


Deixo-te o livro.

Até breve
Isabel

Saturday, October 3, 2015

O dia de hoje e um retorno

Muito tempo depois... Escrevo.
Tenho estado perdida nos dias. Eles passam e eu estou sempre num turbilhão de afazeres, trabalho, preparação da candidatura para mestrado (preparar projecto de tese, ler bibliografia para exame escrito, pensar na defesa oral do projecto...), casa e claro, sempre em primeiro lugar e a ocupar a maior parte dos dias, a minha bebé, que a cada dia é mais menina.

Mas hoje escrevo porque hoje é um marco. Depois de 15 meses, voltei ao teatro, voltei à minha função, aquilo que move os meus estudos e ambições pessoais-profissionais: ser actriz.

Estou num novo processo de montagemde espectáculo. Hoje mostramos os primeiros dez minutos daquilo que vai ser a nossa hora em palco assim que estrearmos.

O nervosinho gigante que tira o ar e aperta a barriga continua cá. É bom, mantem-me desperta e viva. Mas a sensação foi como se nunca tivesse feito esta pausa. E nunca fiz, na verdade. Continuo a cada dia a trabalhar para isto. Mas hoje, concretizou-se e sinto-me feliz. Que venha o resto(s)!


Tuesday, September 8, 2015

Uma imagem inesquecível

Uma imagem vale por todas as palavras?
A imagem de que falo diz tudo sobre a nossa indiferença de povo privilegiado...
Numa praia uma criança estendida na areia. Vestida. Morta.
Inesquecível imagem.
Esta velha Europa da cultura, das Luzes, do conforto e do século xxi, o que faz perante tal horror?
Tempo de pensar e de agir. Agora!

Até breve

Monday, August 31, 2015

Leituras de Verão...


não sei se existem leituras de Verão.

O tempo é mais longo, diz-se, e propicio a leituras…

Lê-se na praia? Na esplanada? À sombra de uma árvore?

Ler é bom e faz bem à saúde – costumo dizer isto aos meus alunos.


Neste tempo de Verão li livros muito interessantes.

Livros de mulheres escritoras e que, de uma forma ou de outra, neles debatem a condição da MULHER em diferentes partes do Mundo e em diferentes culturas.

Recomendo-te a leitura de: «A COISA À VOLTA DO TEU PESCOÇO» da escritora Nigeriana, Chimamanda Ngozi Adichie.

É um livro de contos e em cada um deles há uma mulher com um dilema ou em conflito com a família ou com costumes da sua cultura de origem e ou mesmo com a cultura do país onde se encontra.

E Chimamanda, através da sua escrita, luta contra a «verdade única», a imposição de uma visão única do mundo…como único caminho a seguir.


Outro livro que deves gostar de ler, da escritora Siri Hustvedt: « VERÃO  SEM HOMENS».

O título já é por si provocador…

Nele a escritora faz uma reflexão sobre o casamento, a rotura, o envelhecimento e a solidão. Embora a temática seja dolorosa a sua escrita tem uma leveza que nos comove e um sentido de humor que nos faz rir.


O terceiro livro é da escritora Rosa Montero: « A RIDÍCULA IDEIA DE NÃO VOLTAR A VER-TE». Neste livro há uma viagem pela dor da perda irreparável – a morte de alguém a quem amamos. Há a evocação da perda sofrida pela própria escritora associada à vida de Marie Curie: a sua vida dura enquanto mulher de ciência num mundo tradicionalmente masculino, com as suas dores, amores e perdas.


Os três livros narram vidas de mulheres no seu contexto cultural, social e familiar. Neles encontramos muito de todas nós, dos nossos sonhos e expectativas e das lutas travadas e a travar num mundo que não mudou assim tanto…



«…de repente, tive pena de todos nós, seres humanos, como se tivesse sido transportada subitamente para o céu e, como um omnisciente narrador num romance do século xix, contemplasse lá de cima o espectáculo da humanidade imperfeita a desejar que as coisas fossem diferentes, não completamente diferentes, apenas o suficiente para nos poupar um pouco de dor aqui e ali. Era um desejo modesto, não uma fantasia útopica, apenas o desejo de uma narradora sã de espírito que abana a cabeça ruiva com as suas madeixas grisalhas e lamenta profundamente, lamenta porque está certo lamentar as infindáveis repetições de maldade e violência e mesquinhez e dor. »

                                                         In « Verão sem Homens»

Vale a pena ler.


Até breve



Wednesday, August 26, 2015

Post do dia...


Hoje impõe-se a escrita deste post.  É para ti.

Este dia é teu e quero-o pleno de risos e gargalhadas felizes.

Lembrar que te tenho comigo há 24 anos; anos de alegria, doçura, trocas de escritas, de longos silêncios em conjunto, de partilha de livros e de histórias, de viagens inesquecíveis…numa caminhada tão boa de fazer.

Hoje o dia pertence-te, é teu, é de celebração e de festa.

Aplausos para ti, para a menina que há em ti, cheia de luz rosada e que me trouxe muita felicidade.

Parabéns filha minha.

Monday, July 20, 2015

Uma tarde de afectos...

Ouvir ler num sítio improvável como: a capela de uma prisão.

Tratava-se da entrega dos prémios de um concurso de Escrita Criativa, tema: LIBERDADE.

A luz entrava pelos vitrais e iluminava suavemente aquele lugar, numa realidade teatral e única.
Os homens e mulheres presentes, sentados nos bancos compridos da capela, absorviam tudo com um olhar atento: um actor, um cantor mítico, os visitadores, os guardas e elementos da direcção...
O actor leu os textos premiados, emotivamente, algumas vezes com a respiração entrecortada...textos fortes, duros, de grande intensidade emocional.
O cantor falou de liberdade e prisão, de sonhos...e cantou. A Pedra Filosofal. Sim, era mesmo ele, o Manuel Freire, o cantor da Pedra....
O actor comoveu-se, era o Vitor de Sousa, sempre sensível e atento a causas como esta.

Foi uma tarde especial num lugar improvável e com participantes muito atentos.

A leitura e a escrita unem as pessoas, tornam-nas cúmplices, numa mistura de linguagens, sentimentos e emoções. É sempre um encontro de almas e de afectos.

E ali, naquele lugar de reclusão, viveu-se uma tarde de perfeita LIBERDADE.

Friday, July 17, 2015

Regresso

Regresso.
É o nosso terceiro regresso.
A nossa vida é feita de regressos.
Temos dois lugares onde criamos raízes.
Hoje, daqui a umas horas, deixamos um com um aperto no coração e regressamos ao outro com sorriso na alma.
Sinto-me triste e feliz ao mesmo tempo.
Amanhã deixo e amanhã regresso.
Amanhã.
Boa noite



Saturday, July 11, 2015

Mudança II

Lisboa! Quase...
Braços abertos em abraços longos e sem palavras.
Contamos os dias, as horas...

Tudo está, sempre, em tempo de mudança.
E os sonhos feitos projectos nascem assim...de repente. Eles já existiam em ti, em vós, na vossa vida nómada, estavam latentes, prontos a saltar.
A vossa criatividade, e vontade de fazer, fazem com que tudo aconteça. É assim.

Não tenhas medo, deixa acontecer. Fluir.
Cada pedacinho de vida vivida com aquilo que imaginaste e que vês concretizar-se vai saber-te (vos) a paraíso.

A vida é feita de pequenos pedaços, como um puzzle, umas vezes fáceis de montar, outras vezes mais difíceis... É assim.
Estás a construir o teu puzzle e eu, tua mãe, vejo-te encaixar cada peça no seu lugar, serenamente firme e orgulhosa.

Até breve

Sunday, July 5, 2015

Mudança

Têm sido semanas de mudanças. Se num dia estava certa do que queria, no dia seguinte tudo mudou. Na verdade, não foi de um dia para o outro, mas um contínuo sucessivo de pequenos momentos (e outros enormes) que transformaram aquilo que queria no espaço duma semana.
É engraçado como, de facto, o tempo tudo muda.
Foi uma aula, uma professora e um turbilhão efervescente que isto causou dentro da minha cabeça. O mestrado, que fazia, apesar de empenhada, pouco crente, tomou outras porporções, ganhou sentido e a forma começa a desenhar-se.
Depois, um sonho que não é meu, mas que acompanho há quase quatro anos, ganhou vida no tempo real. E um projeto começa a nascer e eu também começo a sonhar.
Tudo muda, sempre em permanente transformação. Será que vamos estar à altura?
E nós também já estamos de regresso e o nervosinho é casa vez maior... Lisboa! Está quase

Sunday, June 28, 2015

Despedida II

AQUELA BIBLIOTECÁRIA...

...era com o sorriso no rosto,
Com o seu ar sereno,
Que ela usava para opinar, escutar, ensinar...
Com o seu olhar suave, sábio, sedutor...

Ela cativava-nos,
Sequestrava-nos dos nossos mundos agitados,
para o seu mundo,
todo ele colorido,
Calmo,
Cheio de emoções.
O que ela dizia era música.
A sua voz...
Ouvir a sua voz é sonhar acordado.
Sua voz...
só comparando a uma sereia,
ao som de uma arpa.

Com ela é uma mistura de sentimentos;
é alegria e tristeza,
tudo fica claro, tudo fica confuso...

A tristeza de um dia a ver partir.
Mas, onde estiver, será sempre...
...aquela Bibliotecária.

Otiniel

Ilha do Príncipe

Tuesday, June 23, 2015

Despedida

Já no avião...partindo de um lugar para outro e partindo de uma aventura africana de dois meses.
Uma aventura prodigiosa, vivida ao minuto e plena de emoções.

Cada dia trazia consigo algo de novo e inesperado, quase sempre surpreendente - calor intenso,faltas de água, cortes de energia... Tudo bem temperado com o carinho e os sorrisos dos alunos e da população. O amor aos livros e à leitura, o gosto em ouvir ler textos de escritores de Língua Portuguesa.

Gente feliz que sabe viver...levi-levi. Como os invejo.

Viver um dia a dia fora da nossa zona de conforto exige uma capacidade enorme de adaptação, exige paciência e determinação, uma atitude de abertura face ao outro e a nós próprios...
É um exercício de resistência e de teste às nossas capacidades físicas e espirituais.
Sinto que consegui, que vivi com um entusiasmo renovado cada dia que passava, que superei dificuldades e desconfortos vários, que realizei trabalho que pode dar frutos num futuro próximo.

Foi, está a ser ainda, uma bela aventura em ÁFRICA.



Saturday, June 20, 2015

Charlie



Hoje [14 de Junho] despeço-me da Charlie.
Charlie, a papagaia misógina ( embirra com mulheres, porquê, Charlie?!),  que vive na Ilha num recanto muito especial.
Eu e ela trocamos vozes, a dela nem sempre amistosa. Não desisti.
Voltarei, Charlie, e ficaremos amigas para sempre.

Saturday, June 13, 2015

Saudades II

...as tuas,
da família e dos abraços,
das cerejas primaveris,
da tua janela virada para as festas e pregões.

Como te entendo.

...quase em tempo de partida de África já começo a sentir saudades,
dos meus sítios de sempre, onde vou regressar,
e de tudo o que vou aqui deixar...

Deixar?!
Impossível. Levo comigo esta Ilha e dentro de mim o calor e os cheiros,
as vozes e os risos,
e todos os nomes e palavras que aprendi.
Levo comigo este bocado de terra verde rodeada de azul.

Levo comigo muito mais do que aquilo que trazia, quando aqui cheguei.

Monday, June 8, 2015

Saudades

As três coisas (ênfase no "coisas", porque a saudade maior é da minha família) que mais sinto falta de estar em Portugal:


Um belo prato cheio de cerejas bem vermelhas e frescas. Sonho com isto. Este é o segundo ano que não as como.


Lisboa em Junho. Ouvir a música dos arraiais à volta da minha casa. O calor à noite e o primeiro jantar à esplanada com um belo prato de sardinhas e salada de pimento assado. Humm....



A minha janela.



Sunday, June 7, 2015

A minha biblioteca na ilha... | A Ilha Contada IV


...tem livros, não muitos.
Tem 9 prateleiras compridas e 2 estantes.
Tem romances, poesia, livros gordos, magrinhos, com desenhos ou só com letras.
Os meninos gostam de vir aqui, tirar um livro e ficar a lê-lo. E fazem mil perguntas. E querem saber de outros lugares: cidades grandes com prédios e muitos carros, montanhas com neve...nunca viram neve.
Os livros da minha biblioteca enchem os meninos de imagens novas e diferentes...levam-nos a viajar.
As meninas, mesmo grandes, gostam de contos de príncipes e princesas e de fadas boas e más.
Os meninos gostam de lutas e de livros com desenhos...e também de princesas.
Todos os meninos gostam das mesmas coisas pois gostam de histórias de encantar...

Veio cá uma cientista contar histórias verdadeiras sobre o Universo - a Rosa Doran. Ela gosta de explicar tudo sobre as estrelas e os planetas. É uma sábia.
Os meninos andam encantados e querem livros sobre Espaço e Buracos Negros...
A minha biblioteca tem alguns, poucos.

Gosto de estar no meio destes livros e com estes meninos.
Já somos todos amigos e assim seremos para sempre.

(Para as meninas da sua avó)




Wednesday, May 27, 2015

A Televisão [e a liberdade para crescer]

Sempre tivemos televisão em casa.

Quando era pequena, lembro-me de acordar sempre antes que todos e de ir à cozinha, preparar Chocapic com leite e ir ver o Canal Panda. À tarde, aos domingos, havia sempre um ou dois filmes na Sic e à noite, a mãe ligava a TV para ver o telejornal. Pouco mais.

Houve uma época em que eu e a minha irmã gostávamos mais de ver televisão assim que chegávamos da escola, principalmente as séries que davam na RTP2 antes do jantar. Tirando isto, a televisão passava a maior parte do tempo desligada. Quando a minha mãe e eu ficamos a morar as duas, mais ainda.

Quando entrei  pela primeira vez naquela que ia ser a minha casa, a primeira coisa que me apercebi é que o sofá estava virado para… a janela, de onde se vê o rio que a cobre dum lado ao outro. Televisão, uma, que não funcionava e servia de suporte para o leitor de vinis.

Simplesmente, não havia televisão. E, simplesmente, nunca nos fez falta. E um sofá nunca fez tanto sentido numa casa. É o lugar perfeito para tomar uma cerveja fresca enquanto o sol se põe, o canto fiel para se estar com um livro, para se descansar do mundo com o computador, para se estar acompanhado a conversar, a ouvir música, a beber um copo de vinho, para se receber amigos. A sala tornou-se num espaço limpo, sem interferências, sem o nervoso bombardeamento de imagens, cores, sons.

Eu gosto de ver televisão, não quero fingir que não, dar a ideia de que não. Gosto da ideia de me poder deitar, sem compromisso, e ver algo que me distraia e me desligue. Mas desde o momento em que a deixei de ter, apercebi-me que há outras formas de o fazer e o quão sugadora ela é. Quanto tempo nos rouba. Sim, não me rouba só a mim tempo. Rouba-nos a nós, casal, família.
Por isso fico feliz quando me apercebo que ela não vê televisão. Ela não tem televisão. Sei que vai chegar o momento em que ela vai ver, vai gostar, vai querer. E não a vou proibir. Mas sei também que estou a dar-lhe um espaço aberto, livre para ela.

Ela tem um ano, logo por ai vejo a total desnecessidade de coloca-la à frente duma televisão. E ela está numa fase em que precisa de “correr” [neste caso, gatinhar] pela casa, explorar, mexer, descobrir, cair, rebolar, chorar, rir, procurar-me, chamar-me, encontrar coisas novas, brincar com a cadela, com caixas, com meias. Há tanto mundo para ela, para quê fecha-la a uma caixa colorida? Para quê prendê-la ?

Fazemos o melhor que podemos para dar-lhe liberdade e amor. E sei que assim eu estou disponível para ela e ela para nós e para o mundo.


E pergunto-me, é só a falta de televisão que dá isso? Não, mas acredito já ser um começo.


* Imagem do Pinterest

A Ilha Contada III

Mais uma história desta Ilha...

A Cidade vai festejar o DIA DE ÁFRICA.
Vai ser um dia dedicado às tradições africanas; à sua música, histórias e...jogos.
E para os jogos têm que ser feitas as peças de jogar. Como fazer?
Fácil! Inventam-se peças com tampas de garrafas, pedras, sementes e rolhas de cortiça.

Todas as peças foram fáceis de encontrar...mas as rolhas! As rolhas!!
Procuramos, pedimos a toda a gente conhecida...
De repente, um rapaz inglês que está cá a trabalhar e que queria ajudar, disse:
- arranjei 4 rolhas! Mas depois  dos jogos tenho que devolvê-las ao dono...
Ohhhhhhh,mas as rolhas são para ser cortadas em pequenas rodelas, para as transformar em peças de jogo!
E lá voltaram as rolhas inteiras para o dono. São muito raras, aqui.

Mas o DIA DE ÁFRICA vai ser uma alegria; todos os meninos irão ler histórias, cantar, dançar e...jogar com peças feitas de tampinhas e sementes!

E será um dia muito feliz para todos nesta ILHA tão especial.


(para as meninas da sua avó)

Friday, May 15, 2015

A Ilha Contada II

Nesta ILHA verde acontecem, também, coisas estranhas...
E não são nada de encantar.

Ora ouçam:

Houve um temporal de chuva forte e trovões que tudo virou do avesso. Alguns caminhos desapareceram, os postes da electricidade tombaram, os homens e mulheres da aldeia lá em cima ficaram sem luz dentro de casa. E passaram dias, noites e até semanas, sem luz.
Esses homens e mulheres ficaram muito, mas muito, zangados e até foram pedir ao governador da ILHA para pôr a luz a funcionar...
Os dias passaram e as casas continuaram às escuras!
Os homens, muito zangados, foram ao sítio da água e...cortaram os tubos! E disseram: nós não temos luz mas a cidade lá em baixo não tem água!
E a cidade, e quase toda a ILHA, ficou sem água nas torneiras...
E ficaram três dias sem poder tomar banho, sem água para cozinhar, sem água para beber!
E toda a gente da cidade ia procurar fontes na praia, na montanha, onde pudessem encontrar um pouco de água pura!

De repente, a chuva voltou a cair, o ar refrescou e as pessoas guardavam a água da chuva!
Os homens arranjaram os tubos da água e tudo voltou ao normal: as torneiras deixavam cair água, as pessoas cozinhavam e tomavam banho e todos ficaram amigos de novo.
E a luz também voltou a acender lá em cima, na aldeia...

E a ILHA voltou a ser um lugar encantado.


( para as meninas da sua avóisabel)


Wednesday, May 13, 2015

A Ilha II

(e-mail enviado às filhas sobre o Sábado na ilha)


Minhas meninas lindas,
...tive um sábado muito variado!
Trabalhei toda a manhã com professores para planificarmos actividades. E correu tudo bem.
Fui almoçar e iria ficar a tarde em casa pois o calor era insuportável!
Tentei arranjar boleia para ir a uma praia mas já estava toda a gente fora...aqui não há transportes, nem táxis.
Restava o fresco da casa com um livro no colo...
De repente toca o telefone e o convite para uma aventura: ir a uma praia mas...numa carrinha de 2 lugares!! De caixa aberta.
E lá fomos. À AVENTURA!
Imaginem-me com as mãos atrás das costas agarradas à beira da carrinha.

Fotos? Vídeos? Impossível. Agarradíssima para não cair!
Lá fomos nós aos solavancos no meio da vegetação, em estradas que terminam em caminhos com muitos buracos!! Até à praia Macaco. Linda! Água quente.
Fui logo para a água e lá fiquei olhando; ora o céu, ora o verde das palmeiras.

Regressamos pela Roça Belo Monte/hotel. Eu toda molhada e cheia de areia.
O trajecto foi maravilhoso, é mesmo selva! Calor húmido e vegetação cerrada.

( Imaginam-me a subir e descer da carrinha? )

Isto está a ser uma grande aventura. Mesmo.
Fui jantar mas ...nada de net!
Estou na cama a escrever e amanhã tento enviar os mails...
Na sexta-feira, fui a um bar aqui perto, no meio de vegetação, tipo cabana de madeira, onde assisti a um desfile de moda africana de uma estilista local ( 18 anos!). Indescritível! As roupas eram giras e feitas com panos africanos.


As miúdas todas produzidas, com roupa brilhante, sapatos altos, enfim, inesperado.
E os vídeo clips? Imperdíveis! Ou melhor, o que eu tenho andado a perder...
Aquilo prometia pela noite dentro mas vim embora.
Durou até a luz se apagar.

Ando exausta do trabalho mas, sobretudo, do calor. Disseram-nos que a segunda semana é sempre a pior, na adaptação... Já passou.
E são estas as minhas aventuras africanas...por agora.


Até breve

Saturday, May 9, 2015

Da Saudade ou a Mudança | Do outro lado do mundo

Já cá estamos há dois meses inteiros. Faltam dois meses e pouco para regressarmos a Portugal.

Nesta viagem estou a sentir mais saudades de Lisboa do que da outra vez. No ano passado pensava isso mesmo, como não sentia nenhuma melancolia ao pensar em Lisboa, como estava feliz aqui. A verdade é que um ano se passou e as circunstâncias mudaram: da outra vez deixei Portugal e o meu círculo de vida lá no meio dum caos impossível, o que só me motivou mais ainda a vir sem olhar duas vezes para trás, e com uma barriga de sete meses, pelo que a perspectiva dos meses que iriam suceder aqui no Brasil era de luz e descoberta. E claro, tinha o factor novidade: nunca tinha estado em Florianópolis antes, o que, juntamente com o amor que já sentia pelo Brasil, só ajudou nessa viagem.

Quando chegamos a Lisboa deu-se em mim um fenómeno: eu que sempre amei Lisboa, as suas ruas, a sua luz, os seus prédios fechados, o Castelo sobre o rio, a minha rua em Alfama… vi como a cidade estava feia. Foi um choque muito triste para mim. A verdade é que Lisboa está a uma velocidade imensa a ficar mais bonita e cuidada. Mas senti muito a diferença do meu ambiente na ilha, onde, mesmo no meio do caos da cidade, o horizonte que me rodeava sempre eram os “morros” verdes e o cheiro sempre quente vindo da natureza. Sempre preferi o campo à cidade e agora que experienciei viver num ambiente como o primeiro, Lisboa começou a perder os seus encantos. Acredito que será algo passageiro (assim o espero) e consiga voltar a ver com os mesmos olhos de admiração a cidade que é o meu berço e manter por estas duas casas o mesmo sentimento, conseguir encontrar em ambas um porto-seguro, um lugar que sei que me acolhe e que me espera.

No entanto, como disse ao início, este ano sinto mais saudades. As circunstâncias mudam e provavelmente esta saudade é provocada pelo reconhecimento de que nada se repete, tudo continua.

Quando há um ano esperávamos uma bebé, preparávamos a casa, preparávamos-nos a nós, eu me permitia dar descanso, viver o momento da descoberta, este ano começo a sentir a vontade de procurar o mundo lá fora. Há um ano que sou mãe a tempo inteiro. Há um ano que cuido dela, a amamento, passo os dias a brincar, a cuidar, a fazer o melhor possível. Amo cada dia que passo com ela e já começo a olhar para os fins-de-tarde na nossa casa de Lisboa com uma certa nostalgia. Mas, como já li algures, quando o bebé faz um ano, há toda uma transformação na vida da mãe: ela volta a olhar para si mesma.


E estou nesse processo. De retornar ao eu-eu. Ao que eu quero para mim. Sem egoísmos à mistura: é assim mesmo. Ainda estou a tentar a perceber as movimentações cá dentro. Há um certo nervosinho miudinho a crescer. E de repente Lisboa parece ser a resposta. Pode ser que quando chegue lá continue num certo impasse e a sensação se reverta para aqui. Tantas possibilidades… Mas o que espero mesmo é conseguir dar esse salto. Voltar a mim e encontrar o equilíbrio entre o eu e ela, eu e nós, a nossa família.


Saturday, May 2, 2015

A Ilha Contada I


É uma ilha tão verde, mas tão verde, como nunca vi outra igual.
A ilha é pequenina e fica no meio do mar...
Tem árvores que vivem nela há milhões de anos.
São árvores com todos os tons de verde: verde claro, verde escuro, verde amarelado...todos os verdes.
A água do mar é azul e...verde! Esverdeada e transparente. E é tão quentinha, a água neste mar.
As palmeiras são tão altas que parecem tocar nas nuvens.
E vão todas juntas até ao mar e até dançam levemente, com a chuva e com o vento suave.

Tudo é suave nesta ilha. É leve-leve!

E nesta ilha voam pássaros de muitas cores: roxos, amarelos, verdes, encarnados...de todas as cores.
E cantam todo o dia. Estou a ouvi-los!

E no mar transparente e com areia branca no fundo, nadam peixes de mil cores...

...as tartarugas chegam, nas noites luminosas, para terem os seus filhotes.


Esta ilha chama-se PRÍNCIPE porque um dia, há muitos, muitos anos, veio cá um príncipe de verdade e ficou encantado para sempre...e o seu nome assim ficou.



E é nesta ilha que está a avóisabel.


(Para as meninas da Avó)

Tuesday, April 28, 2015

O dia e hoje e O melhor do meu dia II

Hoje é (foi) daqueles dias que termina e tudo o que posso fazer é agradecer por tanto de bom que aconteceu, tanta felicidade. Hoje ela faz um ano. Um ano de vida, inteiro! Um ano em que a minha vida cresceu, se tornou maior, mais forte.
Como uma pessoa tão pequenina consegue trazer tanto sentimento maravilhoso, tanta razão de ser à minha, à nossa, vida.

Hoje, o melhor do meu dia, foram muitas coisas: todas tão pequenas, tão simples, tão cheias:
- Saber que ela fez um ano da forma que ela é, alegre.
- Começar o dia a ler um e-mail vindo de outra ilha, da mãe Isabel, que me encheu os olhos de lágrimas (de felicidade).
- As meninas do café (de todos os dias) cantarem os Parabéns e ela a rir para elas.
- E o melhor do melhor, o nosso picnic a três, naquele cantinho mágico sobre a lagoa, tão delicioso e calmo.

Agradeço por ela existir todos os dias na minha vida. Sei que nasci para ela, para ser Mãe dela.

Que todos os dias ela cresça nessa feliz descoberta do mundo. Que todos os dias saibamos dar-lhe amor e liberdade.

Parabéns meu amor mais pequenino.


Hoje

Hoje fazes 1 ano!

Esperei por ti, enquanto a tua mãe te fazia nascer...aí mesmo, nessa terra maravilhosa e que é pertença do teu pai e agora é vossa.
Contigo veio um mundo novo cheio de risos e de sons...

Quero tanto contar-te histórias; dizer-te que estou numa ilha verde e misteriosa, onde há sítios nunca penetrados, com muitos pássaros coloridos e tartarugas que procuram este aconchego para desovar...
Um dia vou contar-te tudo desta ilha...da sua musicalidade e do calor que derrete o corpo tornando-o mais leve.
Um dia, quem sabe, viremos cá as duas para eu mergulhar contigo no azul esverdeado destas águas quentes...
E ouvirei o teu riso feliz.

Trouxeste contigo muita alegria e serenidade e és uma menina misteriosa e que olha o mundo em volta para ...ver.

Eu, tua avó, quero dar-te todo o meu amor maior; hoje e sempre.
Parabéns, minha neta isabeldeflorianopolis

Saturday, April 25, 2015

[23 de Abril] Dia Mundia do Livro

O prazer de ler, a descoberta do Mundo, o despertar da curiosidade...tudo isso num pequeno objecto - o LIVRO!
Local de partida para viagens intermináveis e de encontros surpreendentes...a maravilhosa aventura da leitura.

E hoje, dia 23 de Abril, é o dia dele. Celebremos.

Recordas um dia 23 de Abril em que deixámos livros em bancos de jardim para serem encontrados e lidos por quem os descobrisse? Que aventura divertida.

Há blogs sobre livros por onde eu viajo e vou deixar-te aqui um para ires espreitar:

lereperigoso.pt

Até breve



Wednesday, April 22, 2015

Nina | Musicando II


Ontem, 21 de Abril, fez 12 anos da morte dela.

Lembro-me quando compraste este cd. Quando o punhas no carro e eu não gostava.

E como agora não passo sem ele. Sem ela.

Nina Simone.


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Monday, April 20, 2015

Hoje [20 de Abril]


Hoje foram os teus anos [20 de Abril].

Parabéns para ti, minha Mãe, Filha do Sol!

Um poema, para leres como melhor sabes.

Casa branca

Casa branca em frente ao mar enorme,
Com o teu jardim de areia e flocos marinhas
E o teu silêncio intacto em que dorme
O milagre das coisas que eram minhas.

A ti eu voltarei após o incerto
Calor de tantos gestos recebidos
Passados os tumultos e o deserto
Beijados os fantasmas, percorridos
Os murmúrios da terra indefinida.

Em ti renascerei num mundo meu
E a redenção virá nas tuas linhas
Onde nenhuma coisa se perdeu
Do milagre das coisas que eram minhas.



Sophia de Mello Breyner Andresen
in Poesia I (1944)



*Foto retirada do Pinterest