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Thursday, October 27, 2016

Tu na Escola Gaulier...


O nosso blog em «banho-maria»?

Este teu silêncio é revelador do momento que estás a viver,

A distância, mais uma vez ela: tu nos arredores de Paris, eu em casa,

Tu a estudar, eu no quotidiano sem história, ou com toda a nossa história presente,

Tu na Escola Gaulier, eu no sítio do costume vivendo a minha realidade na companhia dos livros, dos afectos,  das caminhadas falantes e de troca de conversas com amigos,

Tu aí, eu aqui,

Duas mulheres vivendo o seu próprio tempo, num dia a dia geográfica e familiarmente diferente.

Este é um tempo só teu, aquele em que te constróis como mulher profissional  apaixonada pelo TEATRO, um tempo de enorme enriquecimento e de experiências novas.

Vive-o bem.

…e conta de ti, da tua vivência nesse lugar tão especial.

Friday, September 9, 2016

Caetano II


Que bonito o teu post.

…sim, foi uma emoção desmedida ver e ouvir Caetano no Coliseu.

…e, sim, faltavas tu ao meu lado.

Caetano faz parte do Olimpo da Música; escreve e sente o que canta, com suavidade e ternura.

Foi um concerto doce; ele e o violão, a sua voz calma e as palavras ditas baixinho, num sussurro.

Perfeição.

…sim, tantas memórias nossas e em tantos lugares diferentes  -  viagens/momentos de vida. E que bom essas memórias estarem inscritas em ti.

…não foste comigo mas estiveste sempre ali.

O BELO transforma-nos, alimenta a alma, a vida.

…sim, um dia destes vamos ver o Chico.

 

Até breve

Wednesday, September 7, 2016

Caetano na noite de Lisboa

Ontem foi um dia emocionante. Não pensei que fosse ser tanto. Sabia que estava na expectativa, sabia que queria ir, por curiosidade, por amor às memórias que tenho, que são tantas, cuja banda sonora era Fina Estampa ou Foreign Sounds, misturados com Chico e Bethânia, mais tarde Morelenbaum. Lembras-te, Mãe? Tal como nos sonhos há sempre um detalhe que, pode parecer pouco importante, mas que persiste quando nos tentamos lembrar deles, quando me vêm à memória as lembranças da minha infância, adolescência, do meu crescimento, há sempre música no fundo - os almoços de domingo, à tarde depois da escola, nas viagens de carro pela cidade. Quase sempre bossa nova, samba, Brasil. Nos dias mais cinzentos, Brel ou Nina. No Natal, Frank Sinatra e o meu querido Bing Crosby com White Christmas. Música. A música é algo que veio de ti, Mãe. Não passo os meus dias sem ter a rádio ligada, ou o meu CD favorito do Chico a rodar.
Mas ontem, ontem foi muito maior do que estava à espera. Ontem correu a lágrima. Uma lágrima tranquila, de contentamento, de contemplação e admiração.
Ontem ouvi e vi Caetano Veloso.
(O que dava para hoje ter ido outra vez, contigo)
A entrada dele tão direta, tão segura de si.
Quando ele se vira para nós e diz, sorrindo levemente "não disse?", referindo-se a Teresa Cristina que cantou antes. Quando alguém, como resposta, lhe diz um Obrigado! E ele, cruzando a perna, posicionando os braços relaxados, confortáveis, na guitarra, diz, sedutor: "Cê merece" e trau! o primeiro acorde na guitarra "O índio..." E canta. E a sala encheu. Tremi com aquele acorde, com aquele índio, fiquei sem chão. 

A música.

Ontem entendi como o mundo é algo mais, porque existe, de facto, o belo.

Foi um sonho. Um belo sonho. Agora só me falta o Chico.


Saturday, August 27, 2016

Hoje o dia é todo teu...

E aí estás tu, filha minha e menina-mãe de 25 anos - ainda ontem eras só a minha filha pequena.

25 anos passaram num sopro – o tempo, sempre ele, a correr para onde? Para quê a pressa?

Hoje o dia é todo teu, menina que tinha pressa de nascer e que o fez sem ajuda, quase não dando tempo para ser agarrada…

25 anos lindos, cheios de perguntas, de livros e viagens, de estudos e mais estudos, de escritas e teatro e da vontade de ser mãe…tanta coisa sempre a acontecer.

Hoje o dia pertence-te por inteiro, vive-o com gosto e celebra a vida, a tua.

Eu, tua mãe, deixo-te aqui o meu abraço redondo e eternamente nosso.

Parabéns filha minha.

mãeisabel
 
 

Sunday, July 24, 2016

Tempo de estares II...

…ontem fui ver-te, de novo, numa performence em que aparecias irreconhecível, para os outros…eu, tua mãe vi aquelas mãos e toda a postura física e reconheci-te de imediato, debaixo daquela máscara.

Eras ali uma mulher velha, figura extraordinária, entre o cómico e o sério.

A tua máscara não escondia uma linguagem corporal perfeita, uma expressividade comovente e forte. Eras tu.

A música que escolheste, a Piaf, o Brel, a música francesa que ouvíamos em casa em discos de vinil e que agora são pertença tua.

Uma emoção sem limites ao olhar-te, numa peça dentro daquela peça, pedaços de momentos vividos por ti, por nós.

Que dizer-te? És toda tu uma actriz, de corpo e alma, inteiros.

Eu, tua mãe, sinto um orgulho desmedido e um respeito enorme por ti, pelo teu trabalho, pela tua escolha difícil, por tudo aquilo que és, como mulher inteira…admiro-te muito, filha minha.

…e naquele final de tarde, numa EVOÉ cheia, debaixo de uma calor tórrido e com o corpo a escorrer, os meus aplausos foram para ti.

Aplausos!

(…aplausos para todos os actores das performances de ontem, pelo trabalho divertido, empenhado e profissional. Viva o Teatro. Aplausos!!!)

Até breve


Thursday, July 7, 2016

Tempo de estares


…para mim, tua mãe, este é o tempo ideal, aquele em que te tenho por perto.

…o tempo de te sentir, de ouvir as gargalhadas dela, cada vez mais sonoras, o tempo de conversas, de trocas de tudo o que somos.

Tem sido um tempo de enorme trabalho para ti: ensaios, textos, escritas, cuidar dela, de ti e da tua pequena família.

Ver-te naquele palco, a noite ia alta e a espera muito longa, o nervoso e a ansiedade eram tremendos.

Eras tu aquela padeira disforme, enorme, de olhos tortos e boca ao lado? Aquele riso estranho era teu? Aquele texto difícil num monólogo cheio de vozes, eras tu quem o dizias?

Há em ti um lugar desconhecido, forte, intenso. Extraordinário.

Ver-te ali no palco, sozinha e cheia de presenças, tudo em ti diferente; da voz ao corpo, tudo. A minha filha mais pequena? Ela? Tu?

Senti todo o orgulho de mãe, toda a emoção de te ver assim, actriz.

Imagino o teu trabalho, aquele que não se vê, só se intui…solitário e muito difícil.

Chegaste.

Sim, chegaste a casa, à tua, à janela sobre o rio, aos barcos que passam e enchem o ecrã janela, ao pequeno teatro, ao beco de Alfama, aos sons da tua cidade…à nossa casa comum.

Chegaste.

Sinto-te por perto, à distância do meu abraço real. De mãe.

Tens tempo, todo o tempo do mundo.

Até breve


Wednesday, June 29, 2016

O tempo de chegar

Chegar a casa e estar a chegar a casa não é a mesma coisa. Sinto que a cada regresso (e a cada partida) se torna mais moroso chegar. Ao mesmo tempo mais fácil. Fisicamente, o corpo adapta-se, ele sabe como, as diferenças horárias tornam-se menos um problema, os sonos alinham-se, o calor já não é tanto um choque.
Este ano, por primeira vez, sinto os cheiros: de Lisboa, da minha casa, da tua casa, mãe. Antes era só o cheiro quente do Brasil que me chegava. Agora, sinto com tanta intensidade a minha casa, é (quase) animal (quando não o é?), há um cheiro a frescor nela, a brisa das janelas que a rodeiam, de pão da padaria lá de baixo. E o cheiro da noite, esse é o meu favorito, o cheiro da noite desde a janela do meu quarto. Não o sei explicar, mas há muito que não o sentia, é um misto de quente com o verde das plantas que respiram o calor que acumularam durante o dia - uma delícia. Há muito que não me dava esse prazer, o de fechar os olhos à janela e ficar a respirar, a sentir o cheiro.
Estou balançando entre a felicidade de estar em casa, dos reconhecimentos, dos reencontros e a distância que sinto dessa mesma casa, desses mesmos reconhecimentos, desses reencontros. Venho de uma rotina que me fazia feliz - estudar, ler, ensaiar, escrever, escrever, escrever. De um lugar onde me sentia bem (menos à noite, os anoiteceres custavam, todos os dias). De pessoas que me acolhiam. Agora que saí desse espaço, sinto-me à procura de chão.
Acho que não me dei tempo para encontrar esse chão. Tenho que aprender a fazer isso - dar tempo ao tempo.
Partir e chegar - é algo que também tenho que aprender. Com tempo, sempre com tempo.

Tuesday, May 10, 2016

Nas Cataratas

Iguaçu, nome de rio com cataratas.
Durante um par de dias olhámos e sentimos aquela força natural de águas que se despenham ruidosamente e a perder de vista...ouve-se ao longe a queda daquelas águas.
Por trilhos, e no meio de vegetação cerrada, caminhámos horas fazendo percursos em direcção à força daquele rio.
Eu e tu, em silêncio ou com risos de contentamento por estarmos ali, naquele lugar tão longe de tudo.
Rimo-nos quando os quatis não nos deixam almoçar, roçando-nos as pernas, tentando escalar até ao cimo da mesa, no meio do parque.
...a borboleta gigante e colorida como nunca tínhamos visto de tal tamanho.
O som das conversas de espanto em línguas diferentes.

Um fim de semana de mãe e filha, construindo memórias num universo natural e único.

... e, quase em tempo de partida, levo comigo momentos fortes que me revigoraram e irão alimentar-me nos tempos mais próximos.

Até breve

Sunday, May 1, 2016

Dia da Mãe

"Porque tudo o que fazes crescer faz crescer também, dás vida que dá vida. A mim, que sou teu filho [filha], deste-me toda a vida que tenho e dás-me sempre o teu amor mais brilhante. Mesmo quando estou onde não podes estar, mesmo quando estás onde eu não posso estar, sabemos bem o tamanho dessa certeza que nos une. Eu tenho a certeza de ti, tu tens a certeza de mim. Amor, essa palavra. Mãe, choves essa palavra dentro de mim. Agradeço o milagre que me deste, me dás e que permanece sempre comigo. Foi preciso vir aqui, ao teu lugar, para te dizer aquilo que só aqui fui capaz de saber. Agradeço-te com amor, tenho orgulho de ti com amor, sou feito de ti com amor.
És a minha mãe inteira e eu sou teu filho inteiro.

José Luís Peixoto, A Mãe Que Chovia

Feliz dia da Mãe, minha mãe!

Thursday, April 28, 2016

O dia dela | 28 de Abril

...ela acordou e olhou os balões espalhados pela sala - serviço nocturno de mãe atenta. O sorriso e as palmas, a alegria toda nuns olhos brilhantes.
Presentes em embrulhos coloridos; animaizinhos para o banho, um ecrã mágico para desenhar e apagar, bonecos de dedo para teatrinhos...ela maravilhada. Feliz.

Celebrar dois anos de vida na terra onde nasceu, terra acolhedora e quente, terra de seu pai.

E o dia foi longo com passeio na praia e visita a um parque de protecção de tartarugas, delírio absoluto, seguido de lanchinho em casa da avó paterna, onde chegou o presente maior, o dos pais: uma maravilhosa mesa de música com vários instrumentos, desde bateria a xilofone, passando para outras zonas de produzir sons. Magia e encantamento.

O dia quase no final e o sono que não vem...ali está ela fazendo experiências de sons, conversando com os animaizinhos de borracha...feliz. Foi o dia dela. E todo para ela.


Até breve





Tuesday, April 26, 2016

Do outro lado do mundo | Ano III

Há 14 dias que estás aqui connosco. Dois anos depois da tua, nossa, primeira vinda. Como foi especial esse mês e meio, como vivemos a pairar de alegria. Dois anos depois, confesso que tinha medo que uma viagem tão especial como foi a primeira provocasse uma pequena desilusão no regresso. Tinha medo de não te saber receber, de não sabermos estar longe de casa juntas por tanto tempo. Mas uma vez mais, descubro que o melhor está naquilo que escapa o nosso planejamento e como me guio constantemente nesses receios e medos.
Como estão a ser felizes estes dias!
Como é boa a nossa conversa, os nossos silêncios. És a pessoa com quem mais sei estar em silêncio.
Como é bom vé-la a chamar por ti, pedir "coínho", brincar feliz feliz.
Como é bom sentir-te longe das nuvens que têm pairado sobre nós.

Estou feliz.

E que saibamos levar esta tranquilidade para a nossa casa.


Monday, April 25, 2016

...o dia inicial inteiro e limpo

No meio do verde, do outro lado do oceano e em terra irmã, imagino o descer da Avenida da Liberdade - os meus amigos e todos os que recordam o dia como "...o dia inicial inteiro e limpo". Como só Sophia poderia dizer.
Aquele abraço.

Até breve


Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.

Sophia de Mello Breyner

Saturday, April 23, 2016

Celebrar o Livro | Do outro lado do mundo

Festejar a leitura em Dia Internacional.
Celebrar o Livro, a magia das palavras escritas por sábios de todos os tempos.
Deixo-te o livro que estou a ler, no sítio certo, por ti oferecido - Guimarães Rosa, escritor maior da literatura brasileira.
E é no "teu" Brasil que o leio.

Até breve


Friday, March 11, 2016

A partida

a tua (vossa) partida para o outro lado do atlântico é dolorosa. Fica um vazio, uma ausência de vozes; de sons musicais, dos abraços que não podemos trocar.
Agora que estamos separadas podemos voltar aqui às nossas conversas, às nossas trocas de ideias sobre as coisas simples do nosso dia a dia. Já reparaste há quanto tempo não nos encontramos por aqui?
Tantas coisas aconteceram: o ano mudou, novos projectos surgiram, enfim, tantos momentos já vividos. E, remetemo-nos ao silêncio…
Saber-te aí tão longe, com outros ares, outras gentes – que te querem muito -, outra respiração, outras rotinas, vê-la crescer cheia de alegria, tudo isto faz-me pensar numa forma mais forte de aproximação. De estar aí não estando.
Vou enviar-te um livro, ou vou aí levá-lo?
É um livro muito especial, fui ontem ao seu lançamento e pensei em ti. Imagina só que o livro é um romance «austeniano», a autora, que é grande especialista em Austen, escreveu este livro « à sombra de Jane Austen» - autora que foi durante muito tempo a tua leitura obrigatória e quase obsessiva, lembras-te?
Título do livro: «NÃO HÁ TANTOS HOMENS RICOS COMO MULHERES BONITAS QUE OS MEREÇAM» - onde lemos esta frase?
Tens, obrigatoriamente, de ler este livro, que começa assim:
«É CERTO E SABIDO, e por maioria de razão, que, em pleno século XXI, quando uma mulher jovem, inteligente, independente, dotada de curiosidade e energia, decide escolher uma forma de vida singular, à revelia das influências, de modas e das mais variegadas pressões, estará, provavelmente, condenada ao fracasso.»
Agucei-te o apetite?
O livro é escrito por uma mulher sensível e culta, muito atenta ao ar do tempo que vivemos. É um livro sobre as relações, o amor e o desamor.
Os livros continuam a ser a nossa salvação.

Até breve.

Tuesday, March 8, 2016

O meu café desta manhã...


...e o meu café, nesta manhã do DIA DA MULHER, tomo-o ao som da voz de Marilia Pêra a dizer o poema «AMAR» de Carlos Drummond de Andrade:

 

« Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

…»

Que melhor início do dia senão este?

E vir encontrar-te aqui olhando a tua paisagem de mar com ela a brincar, feliz e solta.
Duas mulheres em crescimento, descobrindo os seus mundos, absorvendo o calor doce dessa terra que vos acolhe.
Imagino-vos.

E hoje, DIA DA MULHER, penso em todas nós, mulheres da família fortemente matriarcal que somos; nos nossos percursos, nas nossas diferenças, nas formas diferentes com que cada uma vive o seu mundo…sempre ligadas, unidas, ferozmente críticas umas com as outras. Coesas. Fortes. Únicas.
Gosto de nós.

Gosto de celebrar o dia pensando em todas: mulheres de diferentes latitudes e culturas, nas lutas travadas, no direito à DIGNIDADE  e ao RESPEITO. Ao AMOR.
Ainda muito caminho para andar… E muito sofrimento desnecessário.

 
…e o poema do Drummond termina assim:

« Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.»

Até breve…

 

Monday, March 7, 2016

Sento-me.
Já adoptei este pedacinho à frente da porta de entrada com o relvado que se estende.
Hoje a temperatura baixou um pouco, mas visto umas alças de quem caiu diretamente dum inverno gelado ao verão. O cheiro é quente, verde. Dois pássaros caminham relaxadamente à minha frente. Um cão ladra.
Saindo do portão, virando à direita duas vezes, um caminho cerrado a plantas que me leva a um estreito areal. O mar. O mar. O mar... Preciso do mar para aliviar o pensamento.
Ela corre feliz, como ela é. Destemida, bonita a descobrir o mundo. Um passeio de cinco minutos estende-se em longas aventuras. Tento lembrar-me disso, do mais pequeno se faz o grande, do pequeno se descobrem mundos, do pequeno se redescobre a primavera.
Espero, e penso. Vou dar um gole no meu café.