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Wednesday, June 29, 2016

O tempo de chegar

Chegar a casa e estar a chegar a casa não é a mesma coisa. Sinto que a cada regresso (e a cada partida) se torna mais moroso chegar. Ao mesmo tempo mais fácil. Fisicamente, o corpo adapta-se, ele sabe como, as diferenças horárias tornam-se menos um problema, os sonos alinham-se, o calor já não é tanto um choque.
Este ano, por primeira vez, sinto os cheiros: de Lisboa, da minha casa, da tua casa, mãe. Antes era só o cheiro quente do Brasil que me chegava. Agora, sinto com tanta intensidade a minha casa, é (quase) animal (quando não o é?), há um cheiro a frescor nela, a brisa das janelas que a rodeiam, de pão da padaria lá de baixo. E o cheiro da noite, esse é o meu favorito, o cheiro da noite desde a janela do meu quarto. Não o sei explicar, mas há muito que não o sentia, é um misto de quente com o verde das plantas que respiram o calor que acumularam durante o dia - uma delícia. Há muito que não me dava esse prazer, o de fechar os olhos à janela e ficar a respirar, a sentir o cheiro.
Estou balançando entre a felicidade de estar em casa, dos reconhecimentos, dos reencontros e a distância que sinto dessa mesma casa, desses mesmos reconhecimentos, desses reencontros. Venho de uma rotina que me fazia feliz - estudar, ler, ensaiar, escrever, escrever, escrever. De um lugar onde me sentia bem (menos à noite, os anoiteceres custavam, todos os dias). De pessoas que me acolhiam. Agora que saí desse espaço, sinto-me à procura de chão.
Acho que não me dei tempo para encontrar esse chão. Tenho que aprender a fazer isso - dar tempo ao tempo.
Partir e chegar - é algo que também tenho que aprender. Com tempo, sempre com tempo.