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Friday, March 11, 2016

A partida

a tua (vossa) partida para o outro lado do atlântico é dolorosa. Fica um vazio, uma ausência de vozes; de sons musicais, dos abraços que não podemos trocar.
Agora que estamos separadas podemos voltar aqui às nossas conversas, às nossas trocas de ideias sobre as coisas simples do nosso dia a dia. Já reparaste há quanto tempo não nos encontramos por aqui?
Tantas coisas aconteceram: o ano mudou, novos projectos surgiram, enfim, tantos momentos já vividos. E, remetemo-nos ao silêncio…
Saber-te aí tão longe, com outros ares, outras gentes – que te querem muito -, outra respiração, outras rotinas, vê-la crescer cheia de alegria, tudo isto faz-me pensar numa forma mais forte de aproximação. De estar aí não estando.
Vou enviar-te um livro, ou vou aí levá-lo?
É um livro muito especial, fui ontem ao seu lançamento e pensei em ti. Imagina só que o livro é um romance «austeniano», a autora, que é grande especialista em Austen, escreveu este livro « à sombra de Jane Austen» - autora que foi durante muito tempo a tua leitura obrigatória e quase obsessiva, lembras-te?
Título do livro: «NÃO HÁ TANTOS HOMENS RICOS COMO MULHERES BONITAS QUE OS MEREÇAM» - onde lemos esta frase?
Tens, obrigatoriamente, de ler este livro, que começa assim:
«É CERTO E SABIDO, e por maioria de razão, que, em pleno século XXI, quando uma mulher jovem, inteligente, independente, dotada de curiosidade e energia, decide escolher uma forma de vida singular, à revelia das influências, de modas e das mais variegadas pressões, estará, provavelmente, condenada ao fracasso.»
Agucei-te o apetite?
O livro é escrito por uma mulher sensível e culta, muito atenta ao ar do tempo que vivemos. É um livro sobre as relações, o amor e o desamor.
Os livros continuam a ser a nossa salvação.

Até breve.

Tuesday, March 8, 2016

O meu café desta manhã...


...e o meu café, nesta manhã do DIA DA MULHER, tomo-o ao som da voz de Marilia Pêra a dizer o poema «AMAR» de Carlos Drummond de Andrade:

 

« Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

…»

Que melhor início do dia senão este?

E vir encontrar-te aqui olhando a tua paisagem de mar com ela a brincar, feliz e solta.
Duas mulheres em crescimento, descobrindo os seus mundos, absorvendo o calor doce dessa terra que vos acolhe.
Imagino-vos.

E hoje, DIA DA MULHER, penso em todas nós, mulheres da família fortemente matriarcal que somos; nos nossos percursos, nas nossas diferenças, nas formas diferentes com que cada uma vive o seu mundo…sempre ligadas, unidas, ferozmente críticas umas com as outras. Coesas. Fortes. Únicas.
Gosto de nós.

Gosto de celebrar o dia pensando em todas: mulheres de diferentes latitudes e culturas, nas lutas travadas, no direito à DIGNIDADE  e ao RESPEITO. Ao AMOR.
Ainda muito caminho para andar… E muito sofrimento desnecessário.

 
…e o poema do Drummond termina assim:

« Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.»

Até breve…

 

Monday, March 7, 2016

Sento-me.
Já adoptei este pedacinho à frente da porta de entrada com o relvado que se estende.
Hoje a temperatura baixou um pouco, mas visto umas alças de quem caiu diretamente dum inverno gelado ao verão. O cheiro é quente, verde. Dois pássaros caminham relaxadamente à minha frente. Um cão ladra.
Saindo do portão, virando à direita duas vezes, um caminho cerrado a plantas que me leva a um estreito areal. O mar. O mar. O mar... Preciso do mar para aliviar o pensamento.
Ela corre feliz, como ela é. Destemida, bonita a descobrir o mundo. Um passeio de cinco minutos estende-se em longas aventuras. Tento lembrar-me disso, do mais pequeno se faz o grande, do pequeno se descobrem mundos, do pequeno se redescobre a primavera.
Espero, e penso. Vou dar um gole no meu café.