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Sunday, July 24, 2016

Tempo de estares II...

…ontem fui ver-te, de novo, numa performence em que aparecias irreconhecível, para os outros…eu, tua mãe vi aquelas mãos e toda a postura física e reconheci-te de imediato, debaixo daquela máscara.

Eras ali uma mulher velha, figura extraordinária, entre o cómico e o sério.

A tua máscara não escondia uma linguagem corporal perfeita, uma expressividade comovente e forte. Eras tu.

A música que escolheste, a Piaf, o Brel, a música francesa que ouvíamos em casa em discos de vinil e que agora são pertença tua.

Uma emoção sem limites ao olhar-te, numa peça dentro daquela peça, pedaços de momentos vividos por ti, por nós.

Que dizer-te? És toda tu uma actriz, de corpo e alma, inteiros.

Eu, tua mãe, sinto um orgulho desmedido e um respeito enorme por ti, pelo teu trabalho, pela tua escolha difícil, por tudo aquilo que és, como mulher inteira…admiro-te muito, filha minha.

…e naquele final de tarde, numa EVOÉ cheia, debaixo de uma calor tórrido e com o corpo a escorrer, os meus aplausos foram para ti.

Aplausos!

(…aplausos para todos os actores das performances de ontem, pelo trabalho divertido, empenhado e profissional. Viva o Teatro. Aplausos!!!)

Até breve


Thursday, July 7, 2016

Tempo de estares


…para mim, tua mãe, este é o tempo ideal, aquele em que te tenho por perto.

…o tempo de te sentir, de ouvir as gargalhadas dela, cada vez mais sonoras, o tempo de conversas, de trocas de tudo o que somos.

Tem sido um tempo de enorme trabalho para ti: ensaios, textos, escritas, cuidar dela, de ti e da tua pequena família.

Ver-te naquele palco, a noite ia alta e a espera muito longa, o nervoso e a ansiedade eram tremendos.

Eras tu aquela padeira disforme, enorme, de olhos tortos e boca ao lado? Aquele riso estranho era teu? Aquele texto difícil num monólogo cheio de vozes, eras tu quem o dizias?

Há em ti um lugar desconhecido, forte, intenso. Extraordinário.

Ver-te ali no palco, sozinha e cheia de presenças, tudo em ti diferente; da voz ao corpo, tudo. A minha filha mais pequena? Ela? Tu?

Senti todo o orgulho de mãe, toda a emoção de te ver assim, actriz.

Imagino o teu trabalho, aquele que não se vê, só se intui…solitário e muito difícil.

Chegaste.

Sim, chegaste a casa, à tua, à janela sobre o rio, aos barcos que passam e enchem o ecrã janela, ao pequeno teatro, ao beco de Alfama, aos sons da tua cidade…à nossa casa comum.

Chegaste.

Sinto-te por perto, à distância do meu abraço real. De mãe.

Tens tempo, todo o tempo do mundo.

Até breve