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Wednesday, May 27, 2015

A Televisão [e a liberdade para crescer]

Sempre tivemos televisão em casa.

Quando era pequena, lembro-me de acordar sempre antes que todos e de ir à cozinha, preparar Chocapic com leite e ir ver o Canal Panda. À tarde, aos domingos, havia sempre um ou dois filmes na Sic e à noite, a mãe ligava a TV para ver o telejornal. Pouco mais.

Houve uma época em que eu e a minha irmã gostávamos mais de ver televisão assim que chegávamos da escola, principalmente as séries que davam na RTP2 antes do jantar. Tirando isto, a televisão passava a maior parte do tempo desligada. Quando a minha mãe e eu ficamos a morar as duas, mais ainda.

Quando entrei  pela primeira vez naquela que ia ser a minha casa, a primeira coisa que me apercebi é que o sofá estava virado para… a janela, de onde se vê o rio que a cobre dum lado ao outro. Televisão, uma, que não funcionava e servia de suporte para o leitor de vinis.

Simplesmente, não havia televisão. E, simplesmente, nunca nos fez falta. E um sofá nunca fez tanto sentido numa casa. É o lugar perfeito para tomar uma cerveja fresca enquanto o sol se põe, o canto fiel para se estar com um livro, para se descansar do mundo com o computador, para se estar acompanhado a conversar, a ouvir música, a beber um copo de vinho, para se receber amigos. A sala tornou-se num espaço limpo, sem interferências, sem o nervoso bombardeamento de imagens, cores, sons.

Eu gosto de ver televisão, não quero fingir que não, dar a ideia de que não. Gosto da ideia de me poder deitar, sem compromisso, e ver algo que me distraia e me desligue. Mas desde o momento em que a deixei de ter, apercebi-me que há outras formas de o fazer e o quão sugadora ela é. Quanto tempo nos rouba. Sim, não me rouba só a mim tempo. Rouba-nos a nós, casal, família.
Por isso fico feliz quando me apercebo que ela não vê televisão. Ela não tem televisão. Sei que vai chegar o momento em que ela vai ver, vai gostar, vai querer. E não a vou proibir. Mas sei também que estou a dar-lhe um espaço aberto, livre para ela.

Ela tem um ano, logo por ai vejo a total desnecessidade de coloca-la à frente duma televisão. E ela está numa fase em que precisa de “correr” [neste caso, gatinhar] pela casa, explorar, mexer, descobrir, cair, rebolar, chorar, rir, procurar-me, chamar-me, encontrar coisas novas, brincar com a cadela, com caixas, com meias. Há tanto mundo para ela, para quê fecha-la a uma caixa colorida? Para quê prendê-la ?

Fazemos o melhor que podemos para dar-lhe liberdade e amor. E sei que assim eu estou disponível para ela e ela para nós e para o mundo.


E pergunto-me, é só a falta de televisão que dá isso? Não, mas acredito já ser um começo.


* Imagem do Pinterest

A Ilha Contada III

Mais uma história desta Ilha...

A Cidade vai festejar o DIA DE ÁFRICA.
Vai ser um dia dedicado às tradições africanas; à sua música, histórias e...jogos.
E para os jogos têm que ser feitas as peças de jogar. Como fazer?
Fácil! Inventam-se peças com tampas de garrafas, pedras, sementes e rolhas de cortiça.

Todas as peças foram fáceis de encontrar...mas as rolhas! As rolhas!!
Procuramos, pedimos a toda a gente conhecida...
De repente, um rapaz inglês que está cá a trabalhar e que queria ajudar, disse:
- arranjei 4 rolhas! Mas depois  dos jogos tenho que devolvê-las ao dono...
Ohhhhhhh,mas as rolhas são para ser cortadas em pequenas rodelas, para as transformar em peças de jogo!
E lá voltaram as rolhas inteiras para o dono. São muito raras, aqui.

Mas o DIA DE ÁFRICA vai ser uma alegria; todos os meninos irão ler histórias, cantar, dançar e...jogar com peças feitas de tampinhas e sementes!

E será um dia muito feliz para todos nesta ILHA tão especial.


(para as meninas da sua avó)

Friday, May 15, 2015

A Ilha Contada II

Nesta ILHA verde acontecem, também, coisas estranhas...
E não são nada de encantar.

Ora ouçam:

Houve um temporal de chuva forte e trovões que tudo virou do avesso. Alguns caminhos desapareceram, os postes da electricidade tombaram, os homens e mulheres da aldeia lá em cima ficaram sem luz dentro de casa. E passaram dias, noites e até semanas, sem luz.
Esses homens e mulheres ficaram muito, mas muito, zangados e até foram pedir ao governador da ILHA para pôr a luz a funcionar...
Os dias passaram e as casas continuaram às escuras!
Os homens, muito zangados, foram ao sítio da água e...cortaram os tubos! E disseram: nós não temos luz mas a cidade lá em baixo não tem água!
E a cidade, e quase toda a ILHA, ficou sem água nas torneiras...
E ficaram três dias sem poder tomar banho, sem água para cozinhar, sem água para beber!
E toda a gente da cidade ia procurar fontes na praia, na montanha, onde pudessem encontrar um pouco de água pura!

De repente, a chuva voltou a cair, o ar refrescou e as pessoas guardavam a água da chuva!
Os homens arranjaram os tubos da água e tudo voltou ao normal: as torneiras deixavam cair água, as pessoas cozinhavam e tomavam banho e todos ficaram amigos de novo.
E a luz também voltou a acender lá em cima, na aldeia...

E a ILHA voltou a ser um lugar encantado.


( para as meninas da sua avóisabel)


Wednesday, May 13, 2015

A Ilha II

(e-mail enviado às filhas sobre o Sábado na ilha)


Minhas meninas lindas,
...tive um sábado muito variado!
Trabalhei toda a manhã com professores para planificarmos actividades. E correu tudo bem.
Fui almoçar e iria ficar a tarde em casa pois o calor era insuportável!
Tentei arranjar boleia para ir a uma praia mas já estava toda a gente fora...aqui não há transportes, nem táxis.
Restava o fresco da casa com um livro no colo...
De repente toca o telefone e o convite para uma aventura: ir a uma praia mas...numa carrinha de 2 lugares!! De caixa aberta.
E lá fomos. À AVENTURA!
Imaginem-me com as mãos atrás das costas agarradas à beira da carrinha.

Fotos? Vídeos? Impossível. Agarradíssima para não cair!
Lá fomos nós aos solavancos no meio da vegetação, em estradas que terminam em caminhos com muitos buracos!! Até à praia Macaco. Linda! Água quente.
Fui logo para a água e lá fiquei olhando; ora o céu, ora o verde das palmeiras.

Regressamos pela Roça Belo Monte/hotel. Eu toda molhada e cheia de areia.
O trajecto foi maravilhoso, é mesmo selva! Calor húmido e vegetação cerrada.

( Imaginam-me a subir e descer da carrinha? )

Isto está a ser uma grande aventura. Mesmo.
Fui jantar mas ...nada de net!
Estou na cama a escrever e amanhã tento enviar os mails...
Na sexta-feira, fui a um bar aqui perto, no meio de vegetação, tipo cabana de madeira, onde assisti a um desfile de moda africana de uma estilista local ( 18 anos!). Indescritível! As roupas eram giras e feitas com panos africanos.


As miúdas todas produzidas, com roupa brilhante, sapatos altos, enfim, inesperado.
E os vídeo clips? Imperdíveis! Ou melhor, o que eu tenho andado a perder...
Aquilo prometia pela noite dentro mas vim embora.
Durou até a luz se apagar.

Ando exausta do trabalho mas, sobretudo, do calor. Disseram-nos que a segunda semana é sempre a pior, na adaptação... Já passou.
E são estas as minhas aventuras africanas...por agora.


Até breve

Saturday, May 9, 2015

Da Saudade ou a Mudança | Do outro lado do mundo

Já cá estamos há dois meses inteiros. Faltam dois meses e pouco para regressarmos a Portugal.

Nesta viagem estou a sentir mais saudades de Lisboa do que da outra vez. No ano passado pensava isso mesmo, como não sentia nenhuma melancolia ao pensar em Lisboa, como estava feliz aqui. A verdade é que um ano se passou e as circunstâncias mudaram: da outra vez deixei Portugal e o meu círculo de vida lá no meio dum caos impossível, o que só me motivou mais ainda a vir sem olhar duas vezes para trás, e com uma barriga de sete meses, pelo que a perspectiva dos meses que iriam suceder aqui no Brasil era de luz e descoberta. E claro, tinha o factor novidade: nunca tinha estado em Florianópolis antes, o que, juntamente com o amor que já sentia pelo Brasil, só ajudou nessa viagem.

Quando chegamos a Lisboa deu-se em mim um fenómeno: eu que sempre amei Lisboa, as suas ruas, a sua luz, os seus prédios fechados, o Castelo sobre o rio, a minha rua em Alfama… vi como a cidade estava feia. Foi um choque muito triste para mim. A verdade é que Lisboa está a uma velocidade imensa a ficar mais bonita e cuidada. Mas senti muito a diferença do meu ambiente na ilha, onde, mesmo no meio do caos da cidade, o horizonte que me rodeava sempre eram os “morros” verdes e o cheiro sempre quente vindo da natureza. Sempre preferi o campo à cidade e agora que experienciei viver num ambiente como o primeiro, Lisboa começou a perder os seus encantos. Acredito que será algo passageiro (assim o espero) e consiga voltar a ver com os mesmos olhos de admiração a cidade que é o meu berço e manter por estas duas casas o mesmo sentimento, conseguir encontrar em ambas um porto-seguro, um lugar que sei que me acolhe e que me espera.

No entanto, como disse ao início, este ano sinto mais saudades. As circunstâncias mudam e provavelmente esta saudade é provocada pelo reconhecimento de que nada se repete, tudo continua.

Quando há um ano esperávamos uma bebé, preparávamos a casa, preparávamos-nos a nós, eu me permitia dar descanso, viver o momento da descoberta, este ano começo a sentir a vontade de procurar o mundo lá fora. Há um ano que sou mãe a tempo inteiro. Há um ano que cuido dela, a amamento, passo os dias a brincar, a cuidar, a fazer o melhor possível. Amo cada dia que passo com ela e já começo a olhar para os fins-de-tarde na nossa casa de Lisboa com uma certa nostalgia. Mas, como já li algures, quando o bebé faz um ano, há toda uma transformação na vida da mãe: ela volta a olhar para si mesma.


E estou nesse processo. De retornar ao eu-eu. Ao que eu quero para mim. Sem egoísmos à mistura: é assim mesmo. Ainda estou a tentar a perceber as movimentações cá dentro. Há um certo nervosinho miudinho a crescer. E de repente Lisboa parece ser a resposta. Pode ser que quando chegue lá continue num certo impasse e a sensação se reverta para aqui. Tantas possibilidades… Mas o que espero mesmo é conseguir dar esse salto. Voltar a mim e encontrar o equilíbrio entre o eu e ela, eu e nós, a nossa família.


Saturday, May 2, 2015

A Ilha Contada I


É uma ilha tão verde, mas tão verde, como nunca vi outra igual.
A ilha é pequenina e fica no meio do mar...
Tem árvores que vivem nela há milhões de anos.
São árvores com todos os tons de verde: verde claro, verde escuro, verde amarelado...todos os verdes.
A água do mar é azul e...verde! Esverdeada e transparente. E é tão quentinha, a água neste mar.
As palmeiras são tão altas que parecem tocar nas nuvens.
E vão todas juntas até ao mar e até dançam levemente, com a chuva e com o vento suave.

Tudo é suave nesta ilha. É leve-leve!

E nesta ilha voam pássaros de muitas cores: roxos, amarelos, verdes, encarnados...de todas as cores.
E cantam todo o dia. Estou a ouvi-los!

E no mar transparente e com areia branca no fundo, nadam peixes de mil cores...

...as tartarugas chegam, nas noites luminosas, para terem os seus filhotes.


Esta ilha chama-se PRÍNCIPE porque um dia, há muitos, muitos anos, veio cá um príncipe de verdade e ficou encantado para sempre...e o seu nome assim ficou.



E é nesta ilha que está a avóisabel.


(Para as meninas da Avó)